PRATICAR NO CAMPO Quando eles voltam para casa, aplicam o que aprenderam e ajudam a mudar a vida da família
A professora de Geografia Rosa Caldeira de Moura destaca a facilidade de desenvolver projetos anuais. "No ensino tradicional, os alunos tendem a dispersar, mas aqui as atividades práticas servem de fio condutor", explica. Toda vez que a turma está para voltar para casa, ela pensa em um tema que possa ser visto na prática. Um exemplo é a erosão. Ela explica o fenômeno e os riscos que ele traz, depois ensina a reproduzi-lo em um pequeno espaço da horta, retirando raízes e acrescentando água. "O pessoal faz e não esquece nunca mais", garante.
A autora do livro A Educação Rural no Brasil, Claudia Souza Passador, doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), defende o uso em larga escala da Alternância, pois entende que ela valoriza o trabalho no campo. "A maioria das escolas estigmatiza o agricultor. As crianças são levadas a pensar que trabalhar na roça é para quem não tem estudo. Um erro. O conhecimento é útil em todas as áreas. O Brasil, especialmente, precisa de pessoas bem formadas para esse setor porque 80% dos municípios têm uma economia essencialmente rural", diz.
Em Goiás, a 130 quilômetros de Goiânia, Daiane Naier da Silva se tornou uma entusiasta do método. Na Escola Família Agrícola de Goiás, a alternância é de duas semanas na instituição e duas em casa. Daiane dá aula de Matemática em dois períodos e, uma vez por semana, dorme na escola em esquema de revezamento para cuidar da garotada. Para ela, isso gera um relacionamento pessoal que leva a bons resultados. "Os alunos se tornam próximos e adquirem confiança na gente", afirma.
Daiane destaca o diálogo constante com os jovens para entender seu cotidiano. Daí cria problemas com cabeças de boi e dúzias de frutas ou divisão de espaços semelhantes ao que fazem em casa. "Eles me explicaram como funciona a reforma agrária, as dificuldades que passam nos assentamentos e como fazem para contornar. Aqui a gente ensina, mas também aprende muito", conclui.
Urbano x rural
O apoio oficial à Alternância ainda gera polêmica. Há a preocupação
de que o método perpetue crianças e adolescentes no campo - caso em que a
Educação não cumpriria seu papel de ampliar possibilidades. Segundo o
diretor de Educação para a Diversidade do MEC, Armênio Bello Schmidt, os
resultados mostram o contrário. "Cerca de 70% dos alunos de Alternância
ingressam no Ensino Superior. Nas escolas públicas, esse índice é
inferior a 60%", garante. Mestre em Educação pela Universidade do Estado
da Bahia (UEB), Neurilene Martins Ribeiro afirma que o tema precisa de
mais debate antes de se tornar uma política pública. Ela estudou a
rotina de escolas rurais da chapada Diamantina e tem dúvidas sobre a
aplicação da Alternância. "Por um lado, nossas políticas são muito
urbano-centristas e precisamos valorizar o meio rural. Por outro, esse
método pode acentuar a separação entre cidade e campo", conclui.
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