As denúncias de violência contra a população LGBT (lésbicas, gays,
bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) estão aumentando,
mas muitas vítimas ainda temem relatar às autoridades competentes as
agressões, além dos que deixam de denunciar por desconhecimento de seus
direitos ou por não saber como fazê-la.
Foto: Jornalagora |
Segundo a Defensoria Pública, o número de relatos de homofobia
encaminhados ao Núcleo de Combate à Discriminação, Racismo e Preconceito
do órgão tem aumentado nos últimos anos. Em 2008 foram registrados 29
casos e, no ano passado, o número de denúncias recebidas chegou a 66, o
que representou crescimento de 227%. No primeiro semestre de 2012, a
Defensoria recebeu 50 ocorrências. A projeção é que o ano termine com
aumento de 15% no número de casos relatados em relação a 2011.
Para dirimir as dúvidas e orientar a população com relação aos direitos
homoafetivos e ao combate à violência, a Defensoria Pública do Estado
de São Paulo instalou na tarde de hoje (9) um posto de atendimento móvel
no Largo do Arouche, no centro da capital paulista. No local,
defensores, advogados e representantes do Poder Público orientaram as
pessoas, principalmente, como denunciar um caso de violência contra
homossexuais.
“Muitas pessoas têm medo [de denunciar]. Uma das que atendemos aqui
hoje falou sobre o temor em denunciar e sofrer algum tipo de
perseguição. Buscamos esclarecer que, quanto mais as pessoas
denunciarem, mais vamos conseguir conscientizar a sociedade e a
eventuais agressores sobre o direito das pessoas”, disse Vanessa Vieira,
defensora pública e coordenadora do Núcleo de Combate à Discriminação,
Racismo e Preconceito da Defensoria Pública, em entrevista à Agência Brasil.
Segundo Paulo Iotti, advogado do Centro de Combate à Homofobia da
prefeitura de São Paulo, 84 casos de violência física contra
homossexuais foram relatados ao centro entre janeiro e outubro deste ano
- somente na capital. Mas o número de casos pode ser ainda maior,
estima Iotti, pois muitas vítimas não denunciam. “Tem muito homossexual
que não é assumido e tem medo de denunciar. E alguns não sabem bem o que
fazer ou como denunciar”, explicou.
Em São Paulo foi criada uma lei para proteger quem é discriminado por
sua orientação sexual. A Lei 10.948, de 2001, prevê advertência, multa
ou, em caso de estabelecimento comercial, suspensão ou cassação de
licença de funcionamento em casos de discriminação homofóbica.
Uma das pessoas que esteve no local na tarde de hoje (9) em busca de esclarecimentos foi Marcelle Miguel. Marcelle disse à Agência Brasil que
já passou por diversas situações “inesperadas de preconceito,
discriminação e agressão”. “Geralmente, quando passamos por essas
situações inesperadas, ficamos com dúvidas. Há a lei que nos assiste,
mas muitas vezes, na hora da situação, não sabemos que decisão tomar”,
declarou. A principal dúvida de Marcelle hoje era sobre a necessidade de
testemunhas ao se fazer uma denúncia.
Em caso de discriminação ou de violência, é importante anotar os nomes e
telefones de pessoas que tenham testemunhado a agressão. “As
testemunhas não são necessárias, mas elas ajudam, dando mais força à
denúncia”, explicou a defensora Vanessa Vieira.
A denúncia pode ser feita tanto sobre pessoas físicas como jurídicas, pessoalmente, por telefone (11-3291-2700), e-mail,
carta ou fax à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania de São
Paulo. “O ideal é que a própria vítima faça a denúncia, mas qualquer
pessoa pode fazê-la com base na Lei 10.948. Afinal a discriminação
atinge toda a sociedade e não apenas aquela pessoa que sofreu a
conduta”, disse a defensora pública.
Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT
de São Paulo, ressaltou o entendimento de Marcelle sobre a importância
de denunciar os agressores.“A denúncia tem que ser feita. Só se consegue
alterar o quadro e mudar nossa sociedade se as pessoas denunciarem e se
forem punidas as pessoas que cometerem esse tipo de crime”, declarou.
Em um dos casos mais recentes de violência, o estudante André Baliera
foi agredido por dois homens na Rua Henrique Schaumman, na semana
passada, em Pinheiros, na zona oeste da capital. Quando voltava para
casa, Baliera levou diversos golpes na cabeça. Em um vídeo que divulgou
no Youtube, ele disse que “a grande verdade é que ser gay nunca foi fácil”, e que tem medo de sair na rua e ser mais uma agredido. O vídeo está disponível em http://www.youtube.com/watch?v=BgzJKI-lYdI.
Fonte: Agência Brasil
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