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sexta-feira, 13 de maio de 2016

A comunidade das comunidades isoladas

Enquanto o país navega em mares anti-institucionais, a comunidade cultural brasileira (muitas vezes organizada em um conjunto de ilhas) ouve falar da possível fagocitose do Ministério da Cultura pelo Ministério da Educação e resiste a discutir as consequências que dali podem vir a se alastrar.
Nesse caldo de (falta de) cultura, a instituição privada Itaú Cultural anuncia os 117 agraciados da 17ª edição do programa Rumos, num investimento que o diretor Eduardo Saron afirma totalizar R$ 15,5 milhões. Nesta edição, cerca de 12 mil projetos recorreram à sociedade público-privada (o Itaú se vale de recursos da sempre questionada e sempre utilizada Lei Rouanet). O total de aprovados perfaz, portanto, menos de 1% dos que pleitearam o mecenato.
A leitura do quadro de selecionados diz muito sobre o Brasil que havia até agora. E deixa intocado o gigante ponto de interrogação sobre o Brasil que será de agora em diante.
“Comunidades isoladas” é um termo que aflora da lista, presente como palavra marcadora de seis dos projetos aprovados. “Questões raciais” aparece como norteador de cinco projetos, entre eles uma das meninas dos olhos da comissão de seleção, um documentário sobre a atriz negra Ruth de Souza, 95 anos, a ser dirigido por uma jovem criadora também negra, Juliana Vicente. “Questões de gênero” são a razão de ser de três projetos. As demais categorias, mais tradicionais, se espalham entre arquitetura, arte e tecnologia, artes visuais, audiovisual, circo, dança, design, formação, games, gastronomia, gestão cultural, HQ, literatura, música, patrimônio e memória, performance, softwares e aplicativos, teatro.
As expressões “comunidades isoladas”, “questões raciais” e “questões de gênero” deixam visível um traço hegemônico na galeria de projetos aprovados: identidade é a palavra de ordem, seja de modo explícito ou implícito. A mesa de anúncio também o diz, no sotaque nordestino da gestora do Itaú Cultural Aninha de Fátima, e nos dois jurados escolhidos para participar da sessão, a atriz, contadora de histórias e gestora cultural acreana Karla Martins e o cineasta paulista Jeferson De, esse fortemente alicerçado pelo discurso das identidades afrodescendentes.

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