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domingo, 13 de janeiro de 2013

Descendentes de escravos na Bahia conseguem vencer a fome e a miséria


Projeto faz parte plano Brasil Sem Miséria, que combate a pobreza extrema. Reportagem faz parte dos melhores momentos do Globo Rural em 2012.


Dos anos 90 para cá, o Brasil passou por grandes mudanças na economia e no nível de vida. Só na última década, 40 milhões de pessoas entraram para a classe média no Brasil e a pobreza caiu ao menor nível da história.

O problema é que mesmo com toda a evolução econômica e social das últimas décadas, o nosso país ainda abriga uma grande quantidade de pessoas vivendo em situação de pobreza extrema. São famílias com renda muito baixa e que enfrentam no dia-a-dia, sérias dificuldades para sobreviver. É justamente no campo, na zona rural, que o percentual de miseráveis é mais elevado. Mas o desejo de uma vida melhor já está começando a virar realidade para muitas famílias do sertão.

Barreiros é uma comunidade quilombola, no município de Itaguaçu da Bahia. É um povoado formado basicamente por agricultores, que têm uma história em comum. Quase todos são descendentes de escravos que, no passado, trabalhavam nas fazendas do sertão.

O principal produto agrícola da região é a mandioca, cultivada em quase todos os sítios. Além de plantar e colher a mandioca, as famílias da região sempre tiveram o costume de produzir farinha em mutirão. O problema é que, em um lugarejo tão pobre e distante, vender a produção sempre foi um problema.

A falta de comprador criava um problema crônico: os agricultores produziam pouco, a casa de farinha funcionava em marcha lenta e as famílias passavam necessidades.

A realidade de pobreza extrema começou a mudar em 2008, quando a farinha passou a ser comprada pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), do Ministério da Agricultura. A operação faz parte do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar. Após assinar um contrato com a associação local, a Conab se tornou uma compradora regular.

Além de farinha, a Conab também compra vários outros produtos de milhares de pequenos sitiantes espalhados pelo país: milho, arroz, feijão, leite, ovos, mel e doces. Uma parte dos alimentos segue para os estoques reguladores do governo e, a outra parte, vai parar na mesa de famílias carentes.

A ampliação desse programa é um dos pilares do plano Brasil Sem Miséria. A meta é, até 2014, garantir a compra regular da produção de 445 mil famílias, a maior parte deles extremamente pobres.

Em Barreiros, a compra garantida provocou uma série de mudanças. Nas lavouras, a produção aumentou, a casa de farinha foi ampliada e as famílias resolveram apostar em outros derivados de mandioca. No início, as agricultoras faziam apenas alguns tipos de bolos e biscoitos, em pequena quantidade. Com o tempo, a produção foi ganhando volume.

Nessa etapa, foi decisiva a contribuição do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que também é parceiro do programa. Atendendo a um pedido das próprias agricultoras, os técnicos da entidade organizaram uma série de cursos com o objetivo de transformar a produção simplória em atividade profissional.

“Eu acho que o instrumento mais importante do agricultor familiar é se apoderar de informações, conhecimento e competências, capazes de fazer com que ele possa gerar ocupação e renda”, declara Hamilton Machado, agrônomo do Sebrae.

Com os treinamentos, a elaboração de derivados de mandioca se tornou mais moderna e padronizada, sem perder o charme caseiro. A cozinha passou por reformas e as agricultoras ampliaram a produção de bolos, biscoitos, tortas, sucos e pudim. Além da farinha, a CONABtambém passou a comprar os outros derivados de mandioca da comunidade.

A produção organizada também permitiu que a associação conquistasse novos clientes. Atualmente, os mercados da região já ficam com 40% de tudo o que é produzido. O resultado desse trabalho é o aumento de renda da comunidade. Pelas contas da associação, a venda de derivados de mandioca e dos outros produtos garante hoje um ganho médio, por mês, de cerca de R$ 500 para cada família.

Vale lembrar que esse valor é um acréscimo de renda afinal, o trabalho na associação não impede que as famílias tenham outras fontes de rendimento, fazendo diárias ou cultivando outros produtos.

Com mais dinheiro girando, as famílias de Barreiros começaram a sair da situação de pobreza extrema. Daniela Bastos, que faz parte da associação, aproveitou a subida de renda para investir nos estudos. Com perseverança, a jovem conseguiu cursar e concluir a faculdade de Letras, em Itaguaçu. Foi a primeira moradora de Barreiros a conquistar um diploma superior. Hoje, Daniela trabalha como professora de português na comunidade. Muitos dos alunos fazem parte da associação e resolveram voltar para a escola.

Uma das alunas de Daniela, e líder da associação, Marilza conta sobre as novidades dentro de casa. Com a melhora dos últimos anos a família saiu da pobreza extrema. “Tem piso em casa, guarda-roupa, sofá, som, computador. A mudança foi um salto muito grande. Me deixa muito feliz”, afirma.

Trabalhos como o de Barreiros mostram que é possível superar a pobreza extrema, mesmo nos lugares mais carentes do meio rural. O desafio é ampliar este e outros projetos que podem melhorar a qualidade de vida das famílias mais pobres do campo, afinal em um país que é hoje uma das maiores economias do mundo, erradicar a miséria é tarefa urgente e deve ser uma exigência de toda a sociedade.

O Brasil Sem Miséria, do qual faz parte o projeto que você acabou de ver, é o plano nacional de combate à pobreza extrema, que envolve governos estaduais, prefeituras, cooperativas e organizações não-governamentais.

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