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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O NEGRO E O BRASIL EMERGENTE

A questão NEGRA no Brasil vem, como é de conhecimento de todos, dos seus primórdios, a exploração sobre esta cor remonta ao século XVI em terras tropicais, sendo finalizada a pouco mais de cem anos, será?
Trezentos anos de escravidão africana no Brasil representada pelo cruel regime social de sujeição do negro e utilização de sua força, explorada para fins econômicos, como propriedade privada do homem branco, criaram problemas bem mais graves e profundos do que geralmente se imagina.
Impactou-se a comunidade negra, impondo-lhe índices de desenvolvimento humanos mais baixos do país, afetou também o etos da população branca, - “Aquilo que é característico e predominante nas atitudes e sentimentos dos indivíduos de um povo, grupo ou comunidade, que marca suas realizações ou manifestações culturais”- Aurélio, com sutis sentimentos contra os afrodescendentes. A discriminação ao negro no Brasil se dá com o encobrimento, com subterfúgios, como se percebe nas análises de dados socioeconômicos.
A fase histórica do Brasil Colonial não me deterei, pois a intensão é a balbucia de hoje em dia, de hipócritas que proferem palestras sobre as discursões raciais, que no mundo todo vem tomado proporções significativas e no Brasil ainda é insipiente e insólita para reparar nossa divida social com essa classe que é a credora do Brasil ser hoje a 6ª potencia econômica mundial.
Em 2005 em seminário no Fórum Social Mundial, o embaixador da Jamaica na Nigéria, Dudley Thompson, além de um importante pensador jamaicano, defendeu uma compensação em dinheiro para a população negra dos países que utilizaram seu trabalho escravo, "Não adianta dizer para um gato que ele agora é um cão, é preciso mostrar-lhe o focinho, as orelhas e seu tamanho." O seminário Reparações reuniu líderes de movimentos negros nacionais e internacionais, à época, para pensar a dívida que o mundo tem com essa população.
Thompson fez um discurso muito parecido em outro evento à época e explicou melhor a metáfora do gato e do cão: "um homem não se torna livre apenas com palavras, quando avisado. Um homem livre tem terra, educação e participação no governo". Pretendia discutir maneiras de se recompensar o povo negro pela situação de extrema desvantagem que se encontram na sociedade atual. Em outro momento, a necessidade de incentivar a aceitação ao diferente, seja ela expressa através de raça, gênero ou orientação sexual.
Embora o jamaicano defenda que o "estupro de avós e a morte de avôs nunca será compensado em dinheiro", sua proposta é que a população negra se organize para cobrar a dívida de seus antepassados, e que ela seja paga em espécie. "Os judeus conseguiram, assim como os esquimós do Canadá e os índios dos Estados Unidos", para ele as dívidas dos países negros deveriam ser canceladas, "ela é inferior ao valor que se gasta com guerras".
Outra barreira é a dificuldade do povo de origem africana para reconhecer seus direitos. Thompson se lembrou da forte pressão psicológica que sofrem simplesmente por serem negros, e das sérias complicações que essa pressão exerce sobre sua autoconfiança. "Não temos mais algemas nas mãos, elas agora estão na nossa mente".
Ainda no Fórum Social Mundial, Maria Olívia Santana, neste período era coordenadora nacional da Unegro (União de Negros pela Igualdade) e recém eleita vereadora de Salvador, levantava que a reparação deveria ser feita por meio de um programa nacional com políticas de educação e inclusão na universidade e no mercado. "Os EUA implantaram políticas afirmativas e a população negra conseguiu seu espaço no mercado, nas escolas e universidades." Sobre a realidade no Brasil, não se lembra de exemplos de ações efetivas do governo, "precisamos de uma forte campanha midiática para que a população se saiba e se reconheça negra, como ela é".
Embora esteja provada e comprovada a enorme desigualdade pelos índices socioeconômicos oficiais entre brancos e negros, ela continua ser enormemente ignorada pela cultura “branca”. Por significativo exemplo, quando se trata da “dívida social” ela é generalizada para todos os segmentos da população do país, esquecendo-se de seu principal credor, a população negra. Pior, qualquer movimento que vise liquidar esse injusto contraste social é logo tachado de discriminar os brancos... A história nos revela claramente qual é o segmento dos injustiçados e dos desprezados do nosso país, com quem, afinal, toda a população contraiu a sua “dívida social”.
Em 2010 é sancionada a lei que cria o Estatuto da Igualdade Racial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmava que a dívida do Brasil com os negros não podia ser paga em dinheiro, mas com solidariedade. O estatuto prevê garantias e políticas públicas de valorização, além de uma nova ordem de direitos para os brasileiros negros, que somam cerca de 90 milhões de pessoas.
"Não é tudo o que a gente quer. Ainda faltam coisas pra gente fazer, mas é importante que a gente tenha a clareza de que hoje nós temos o Estatuto da Igualdade Racial, nós temos uma lei que dá mais direitos, que recupera a cidadania do povo negro brasileiro", Lula.
 Impõe-se, pois, que a realidade real do país seja revelada pelos índices socioeconômicos do segmento mais numeroso e mais excluído do país, o negro e pardo. É a partir daí é que devem ser analisados os índices socioeconômicos. Quaisquer outras políticas que não sejam dirigidas prioritariamente ao segmento negro, jamais alcançará a isonomia na sociedade brasileira. Só aumentará é claro, a desigualdade, o fosso entre brancos e negros-pardos.
A tão falada “dívida social”, sim, é devida unicamente aos negros. Foram eles que durante 300 anos construíram as bases econômicas do Brasil, em condições brutais de escravatura, a custo da completa exclusão da sociedade, impedidos de se educarem minimamente.
O negro é, pois, o único segmento populacional que ainda não foi pago pela construção do país chamado Brasil. Não fosse o trabalho do negro, continuaríamos ser a Terra dos Papagaios, a Pindorama.
Neste cenário, as cotas de negros nas universidades, sobre as quais muito se fala nos dias de hoje é apenas um detalhe. Embora seja justa e necessária, irá ao encontro de uma minoria que conseguiu superar o gargalo no ensino fundamental e médio, podendo assim de candidatar à vagas nas universidades. Mas a massa da população negra continuará excluída.
 
Como bem diz o senador Cristóvão Buarque que “a solução da dívida social é a educação. Sem educação, jamais será resolvida a questão social.” Deste modo, impõe-se priorizar urgentemente a educação da nossa gente.

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