*DESENVOLVIMENTISMO HOJE?: 48
anos depois do golpe de 64, direcionado em parte contra a agenda
desenvolvimentista --que Geisel retomaria, seletivamente-- o debate sobre o
assunto volta à pauta, impulsionado desta vez pelo colapso neoliberal e pelos
sinais de esgotamento do atual padrão de crescimento brasileiro** A agenda
interrompida é resgatável no século XXI? Em que termos?
1964/2012:'É TEMPO DE MURICI,
CADA UM CUIDE DE SI'
O site do jornal O Globo dava
ontem, em manchete garrafal, a quebra do
sigilo bancário do demo, Demóstenes Torres, até há bem pouco tempo um
parceiro, digamos assim, do jornalismo imparcial chancelado pelos Marinhos. A
revista Veja, cuja afinidade de propósitos com Demóstenes, segundo consta,
poderá ser aferida pela intensa troca de telefonemas entre a alta direção de
sua sucursal, em Brasília, e o senador doublé de bicheiro, trata agora o amigo
como uma carga incômoda, a ser jogada ao mar o mais rápido possível. O Estadão,
para arrematar, refere-se a 1964 --que ajudou a eclodir-- como 'o golpe' de 64.
Sintomático, a renovação do vocabulário se dá justamente na cobertura do cerco
promovido por estudantes a integrantes da ditadura que comemoravam o golpe no
Clube Militar, no Rio. Tempos interessantes. Se vivo, possivelmente o coronel
Tamarindo, protagonista da Guerra dos Canudos (1896-1897), repetiria aqui a
frase famosa: 'É tempo de murici (*uma fruta da caatinga), que cada um cuide de
si'. O bordão símbolo da debandada teria
sido proferido pelo coronel Pedro Nunes Tamarindo ao constatar a desarticulação
total das tropas no ataque a Canudos,
após a morte do comandante Moreira César. Decorridos 48 anos do golpe
militar de 1964, o conservadorismo brasileiro vive, sem dúvida, uma deriva
decorrente da implosão da ordem neoliberal no plano externo e de três derrotas
presidenciais sucessivas para o PT. Não tem projeto, não tem lideranças
--Demóstenes pretendia ser o candidato em 2014; Serra é contestado entre seus
próprios pares, como se viu na prévia do PSDB, em SP. É tempo de murici. De
volta, e afiado, Lula sintetizou bem esse período, personificando-0 no declínio
do eterno candidato tucano: 'Serra é o político de ontem; com idéias de
anteontem'. Mas as safras passam. Cabe ao governo, e às forças progressistas,
ocupar o vazio com respostas que não sejam apenas a mitigação daquilo que os
derrotados fariam, se não estivessem cada qual cuidando de si.
Carta Maior; 6ª feira/30/03/ 2012.
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