Articulada em 7 eixos – terra, participação, educação, cultura, políticas públicas, violência e geração de renda – o diagnóstico foi conduzido com a ajuda da estudante holandesa Irene Jurna e contou com a sistematização de mais de 100 experiências. Apresentado durante reunião da Coordenação Ampliada do Polo da Borborema, o momento contou com a participação de jovens lideranças agricultoras e da coordenação do Polo.
Irene destacou em sua apresentação pontos importantes da pesquisa, como as questões de gênero em relação as jovens camponesas, além de aspectos como autonomia e educação do campo contextualizada. Parte dos desafios para continuidade na agricultura são a escassez de terra e ainda a cultura machista que prioriza os homens no momento de herdar as propriedades. O estudo mostra que o trabalho com mulheres que vem sendo desenvolvido pelo Polo, precisa abraçar estes aspectos, entendendo que os jovens precisam também ser tocados pelas questões de igualdade de gênero.
Outro ponto relevante do diagnóstico foi a importância de dar autonomia e oportunidade a esses jovens. “Se em 2010 eu não tivesse ganhado uma cisterna-calçadão, eu não estaria mais no sítio” destacou o jovem Erivan Alves, de 27 anos, do Sítio Floriano em Lagoa Seca. Para ele, a partir do momento em que o jovem tem oportunidade, ele permanece na agricultura. Erivan falou ainda sobre importância de continuar lutando por mais direitos e políticas públicas para o campo. “Se eu recebi minha cisterna foi porque alguém lutou por ela, e é nosso dever continuar lutando para que mais jovens possam ter acesso a essas políticas”, disse o jovem.
Esse acesso a políticas públicas foi destacado também no diagnóstico, apontando que apesar das dificuldades encontradas nesse campo, a inserção da juventude em programas sociais traz a tão sonhada independência e consequentemente o desejo de permanecer na agricultura. Como bem destaca a jovem Aline Belarmino, “O P1MC, P1+2, PAA, PNAE, deram oportunidade para o jovem ficar no campo, porque ali ele tem mais facilidade de acesso a água, tem onde produzir, onde vender seus produtos”.
O diagnóstico focou também na importância da educação contextualizada no campo. Entendendo as realidades diferentes no ensino feito na cidade e nas escolas rurais, uma metodologia inclusiva é mais do que necessária. O descrédito dos educadores com os saberes camponeses acaba por legitimar o preconceito que muitos desses jovens agricultores sofrem na escola, o que usualmente pode afastar esses jovens do ensino.
Para a assessora técnica da AS-PTA, Adriana Galvão, uma questão visibilizada durante o diagnóstico é a da pluriatividade. “Muitos jovens agricultores acabam exercendo trabalhos fora da agricultura, mas de maneira a dar suporte a sua permanência no campo”. Para além disso, frisa Adriana, “deve-se pensar nas oportunidades dadas aos jovens dentro dos sindicatos, criando espaços de troca e construção entre eles, além de favorecer com que eles sejam realmente os protagonistas do seu próprio projeto político”, enfatiza.
A sucessão no campo, preocupação entre as atuais lideranças e até entre os próprios agricultores, é uma realidade que pode ser mudada a partir desse novo olhar sobre a juventude camponesa. Dar espaço para que esses jovens possam trabalhar ativamente no movimento e entender a juventude situada em seu próprio tempo não é tarefa fácil, mas necessária. Os sindicatos precisam abraçar a juventude, levantar sua bandeira.
Em suma, o Diagnóstico da Juventude Camponesa vem abrir os olhos para a necessidade de uma metodologia específica para o trabalho com juventude. A partir do entendimento das expectativas e sonhos desses jovens agricultores, o compromisso da assistência técnica, dos sindicatos e dos próprios pais desses jovens agora, é dar seguimento ao trabalho. Nas palavras do jovem agricultor Alan Kilson, “se esses jovens não se interessarem pela agricultura, mais na frente, quem vai seguir na luta?”.
Fonte: http://aspta.org.br/2016/05/diagnostico-da-juventude-camponesa-mostra-novos-rumos-para-o-trabalho-com-jovens-na-borborema/
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