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terça-feira, 13 de outubro de 2009

ALGAROBA SUBSTITUI TRIGO, FAZ MEL, BEBIDA E ATÉ GELÉIA






PLANTA É RICA EM AÇÚCARES, PROTEÍNAS E SAIS MINERAIS E SEUS FRUTOS SÃO AROMÁTICOS E DOCES.


Em 16 de agosto de 2009, no Jornal Correioda Paraíba,
foi apresentado aos paraibanos uma linha de pesquisa que
vem trazer os vários benefícios proveniente da “condenada” algaroba (Prosopis juliflora), leia e tire
suas dúvidas se a algarobeira é boa ou ruim? Ou é o
homem que condena tudo aquilo que ele não conhece?

Bolo, pão, biscoito, bebida, geléia, mel, pudim, sopa e papa são algumas das iguarias que podem ser elaboradas a partir das vagens de uma planta muito comum no semi-árido nordestino, a algarobeira.
O pesquisador e doutor no assunto Clóvis Gouveia da Silva garante que “a parede dos frutos da algarobeira é rica em açúcares, proteínas, sais minerais e outras substâncias que são transformadas em matéria-prima para a produção desses alimentos”.
E a coisa não é de agora. O doutor em Engenharia de Processos pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e pesquisador vinculado ao Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba (CT-UFPB), localizado no Campus I da instituição em João Pessoa, revela que as vagens da planta são frutos palatáveis aromáticos e doces, “e estão entre os alimentos mais antigos utilizados pelo homem no novo mundo”. O uso das vagens da algarobeira na alimentação humana data da época do descobrimento, quando navios espanhóis aportaram na América do Sul e os conquistadores encontraram índios comendoaqueles frutos. O consumo era mais intenso em regiões semi-desérticas, que se estendem desde o sul do Equador ao centro do Chile e da Argentina.
Dentro da lógica de que da algaroba nada se perde, o pesquisador destaca que a partir dos açúcares extraídos das vagens da planta é possível obter etanol, vinagre, acetona, ácido cítrico, enzimas e muitos outros componentes, a exemplo de aldeídos e metanol, e que os ácidos e os ésteres produzidos durante a fermentação contribuem para a melhoria da qualidade de diversas bebidas.
Ele também lembra também que a região semi-árida normalmente enfrenta longos períodos de estiagem. “Seria quase impossível o sertanejo sobreviver sem a algarobeira, pois dela sai a grande quantidade de frutos destinados à alimentação animal e o volume de madeira usado em construções e instalações rurais, como cercas, porteiras, cocheiras, mourões e carros de boi. A extração de lenha e carvão é outra vantagem da planta, pois são materiais queimados em fornos cerâmicos, padarias, usinas e siderúrgicas por todo o Nordeste”, destaca.

PESQUISA DAS POTENCIALIDADES DA PLANTA.
Clóvis Gouveia pesquisa a aplicação das potencialidades biotecnológicas da algaroba para a produção de alimentos e bebidas na Paraíba há mais de 10 anos. Com seu trabalho, ele concorreu por duas vezes ao Prêmio Finep de Inovação Tecnológica nos anos de 2006 e 2007.
Ele observa que o mundo está cada vez mais focado no rápido crescimento de sua população, cuja conseqüência imediata é o aumento da demanda alimentar. Portanto, há uma “necessidade urgente de elevar a oferta de alimentos sem prejudicar o meio ambiente”.
De olho nesse grave problema, ele observa que vem desenvolvendo na Paraíba, de forma pioneira, vários trabalhos “com o objetivo de potencializar o aproveitamento dos frutos da algarobeira nas regiões semiáridas do Nordeste, onde a subnutrição é reflexo direto da carência de alimentos potencialmente nutritivos e de fácil aquisição”. E explica que a planta, mesmo rica em nutrientes, é desperdiçada por falta de tecnologias que viabilizem a sua exploração racional por essas populações carentes de alimentos.
O pesquisador paraibano foi o primeiro a desenvolver no Brasil trabalhos com a aguardente de algaroba, estudos que lhe valeram o título de mestre. Depois disso, ele não parou mais e sentiu a necessidade de passar ao processo produtivo, viabilizando o aproveitamento do potencial de açúcares existente nas vagens para implantação de pequenas unidades em escala micro-industrial. “Essas unidades proporcionam um retorno financeiro significativo ao produtor, e geram emprego e renda para as regiões onde estão instaladas”, informa.

AGUARDANTE, LICOR, VINHO E ATÉ AFRODISÍACO.
Outra vantagem do cultivo da algarobeira no semi-árido apontada pelo pesquisador é a de que as vagens favorecem os processos bioquímicos, viabilizando a tecnologia de produção de álcool, aguardente, licor, vinho, mel, enzimas, ácidos, gomas, vinagre e até bebida que substitui o café. Isso se dá em função do elevado teor de açúcares, associado a altos níveis de nitrogênio desses frutos. Em alguns países andinos, as vagens servem para fabricar bebidas
tipo aloja, chicha, etole e algarobina (essa um tipo de fortificante estomacal e afrodisíaco).
Defensor intransigente das várias formas de utilização da planta, Clóvis Gouveia atesta que a algaroba é um recurso natural renovável, disponível e, valorizar sua cadeia produtiva usando técnicas agrícolas simples e apropriadas, é fundamental para o desenvolvimento sustentável do Nordeste. “Em razão dessas informações, as vagens constituem uma fonte de matéria-rima para o desenvolvimento de uma série de produtos e inovações tecnológicas estudadas por pesquisadores do mundo inteiro”, completa.

NO MEIO AMBIENTE.
Mesmo com todas essas vantagens para o desenvolvimento sustentável de regiões áridas e semidesérticas, a algabora enfrenta restrições no meio científico e até mesmo entre as populações que seriam beneficiadas com uso correto de seu potencial.
Existem correntes de pensamento que tratam a planta como uma ‘vilã’ para o solo. A essas pessoas, o pesquisador responde com a certeza de que a algarobeira fixa no solo o nitrogênio absorvido do ar e o transforma em nitrato.“Os nitratos solúveis do solo são absorvidos pelas raízes das plantas e transformados em proteínas vegetais.
Essas são usadas na nutrição de animais superiores, transformando-se em proteína animal que funciona como verdadeiro adubo vivo, fornecendo à planta os sais de nitrogênio necessários ao seu desenvolvimento”, esclarece.

PLANTA AJUDA A FERTILIZAR O SOLO.
Para quem pensa que a algarobeira prejudica o meio ambiente, Clóvis lembra que se cultivada de maneira racional, a planta fertiliza o solo, cria um agradável clima ao seu redor e ajuda a minimizar o calor nas cidades e comunidades rurais do Nordeste, combate a desertificação com reflorestamento de imensas áreas de matas nativas devastadas pelo homem. “Quem conhece as suas potencialidades, não perde tempo e usa na sua propriedade.
Viajando pela Paraíba, é quase impossível não se deparar com a beleza da paisagem promovida por algarobais em grandes áreas rurais”, ressalta.

TECNOLOGIA LIMPA.
A partir dos resíduos provenientes da extração dos açúcares para obtenção da aguardente de algaroba, o pesquisador viu que era possível transformá-los em farinhas e desenvolver outros produtos de base alimentícia. E ele insiste que o cultivo racional da planta pode viabilizar grandes empreendimentos no Nordeste, a exemplo da indústria ‘Riocon’, instalada na Bahia e que processa acima de 150 toneladas/ano de farelo para a produção de ração animal.
A colheita e venda de vagens às margens do rio São Francisco integram a rotina dos produtores daquela região. Com esses estudos, Clóvis Gouveia diz ter encontrado respostas que possibilitam o aperfeiçoamento da produção de aguardente de algaroba e, principalmente, geram produtos alimentícios a partir dos resíduos obtidos no processo, sem comprometer o meio ambiente e aproveitando 100% da vagem.
Por ROBSON NÓBREGA.